MOURÃO DA PORTEIRA
Ainda longe escutava no mourão a batida da porteira,
Que pelos anos carcomida ,já velha e esbranquiçada
Tornara a cor da madeira que quando bruta lisonjeira
De saudosa lisonjeada a madeira, quando foi lavrada!
Nas travas a que tem os quatro cantos ,lindo trabalho!
Que a toda marceneiro admiro o trato que é–lhe dado,
sem ter parafuso firma,preso com cavaco ou ramalho,
De que mais se prende uma a outra,quando molhado
Madeira que entra na outra justa, mas que sem aperto,
Dominando as intempéries todas,pousando ao ar livre;
ensina laboriosamente aos que a descasam, transverto,
Quando retirada vida do arbusto em que tanto se prive!
Quando dos tempos idos; Ah porteira quem carregou,
Sem carrinho,sem brinquedos e nela o tempo trepado,
Um abria-a até o fim do espaço então soltava,passeou,
Vez à abrir o outro já estava em cima à ser empurrado!
Agora ,das salgadas pérolas que me enchem já as rugas
O meu sentir a tristeza faz única, a saudade me castiga,
Das valetas cheias é que Deus na paixão me as enxuga;
Na porteira que bate, neste coração tão sentido: fadiga!
Barrinha,15 de outubro de 2008 20:22